quinta-feira, 22 de março de 2012

Algumas visões da Caatinga

"Sou filho do pé de serra do sertão queimado!"

Talvez essa expressão seja estranha aos que não conhecem a caatinga e para ilustrar (talvez até provocar), lhe convido a assistir ao vídeo com a música de Jacinto Silva que caracteriza um pouco a paisagem, o ambiente, a cultura, o cotidiano do vaqueiro e da ocupação do território a partir da criação bovina.




Quando pensamos na caatinga possivelmente nos vem a ideia de um local com escassez de água. Mas certamente o ambiente da caatinga é muito mais que o "sertão queimado" apresentado pela grande mídia.
É certo que no sertão nordestino há um conjunto de fatores ambientais que fazem essa região ter características únicas, sendo que os índices de pluviosidade, temperatura ambiente e luminosidade associados a Pedologia / Geologia, resultam em um ambiente que exige dos seres vivos adaptações de sobrevivência e (considerando o homem) planejamento de uso e ocupação do espaço para o desenvolvimento social. (Penso que isso só através de organização popular para a transformação societária )
Observando a flora e a fauna presentes nesta região é possível entender a plena adaptação da vida ao ambiente. A paisagem da caatinga, assim como a dinâmica ambiental, se transformam sobremaneira com a chegada das chuvas, o que faz renovar as cores, odores e sabores.

Andar pela caatinga desperta sensações inesquecíveis e surpreendentes como admirar a beleza das flores de xique-xique, mandacaru, catingueira ou mesmo tatear árvores como o marmeleiro, mulungu, a macambira e a gameleira... esta aliás com aroma indescritível !


Vejamos o texto abaixo de Euclides da Cunha escrito em 1902. "Os Sertões"
Poucas espécies da caatinga não perdem as folhas na época da seca. Ao caírem as primeiras chuvas a caatinga perde seu aspecto rude e torna-se rapidamente verde e florida.
Vejamos algumas plantas suas flores. A maioria dessas é utilizada em chás, remédios e temperos.
Algaroba
 Angico


 Aroeira



Catingueira


Cardo santo


Caroa


Juazeiro

Jurema


Jurubeba


Macambira

Marmeleiro


Sete cascas



 Catingueira florada

Fotos: fatosefotosdacaatinga.blogspot.com
O umbuzeiro

Representa o mais frisante exemplo de adaptação da flora sertaneja.
E reparte-se com o homem. Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrelaçados parecem de propósito feitos para a armação das redes bamboantes. E ao chegarem os tempos felizes dá-lhes os frutos de sabor esquisito para o preparo da umbuzada tradicional.
O gado, mesmo nos dias de abastança, cobiça o sumo acidulado das suas folhas. Realça-se-lhe, então, o porte, levantada, em recorte firme, a copa arredondada, num plano perfeito sobre o chão, à altura atingida pelos bois mais altos, ao modo de plantas ornamentais entregues à solicitude de práticos jardineiros. Assim decotadas semelham grande calotas esféricas. Dominam a flora sertaneja nos tempos felizes, como os cereus melancólicos nos paroxismos estivais.

É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros
.

O VAQUEIRO NORDESTINO
É o tipo de maior expressividade no sertão nordestino. Uma das características do Vaqueiro é que, mesmo sendo fisicamente magro, com pequena estatura e calmo, é um homem muito trabalhador e destemido na luta com os animais. Ao perseguir um boi na caatinga torna-se intrépido e arrojado. No seu trabalho usa indumentária feita em couro para proteger o corpo dos espinhos e galhos das árvores. Muitas vezes, para arrebanhar o gado, é necessário a "pega do boi na caatinga" utilizando apenas o cavalo e usando a indumentária acima citada. Estando montado a cavalo, ao encontrar a rês desgarrada, corre atrás dela por entre a fechada vegetação da caatinga e ao alcançá-la, puxa-a pelo rabo, derruba-a ao solo e rapidamente a amarra. Após "pear" o boi, para impedir passadas largas, coloca-lhe uma "careta" feita de couro que só permite ao animal visão lateral e pendura-lhe no pescoço um "cambão", pesada peça de madeira que impede que o boi possa correr. Feito isso o animal está totalmente dominado e facilmente pode ser levado para o curral a fim de que receba o ferro a fazenda. Da "Pega de boi na caatinga" originou-se a Vaqueijada, esporte do sertão praticado pelos vaqueiros propriamente ditos e também por vaqueiros esportistas que utilizam locais apropriados para a prátrica do esporte.
 Fonte:
xiquexiquense.blogspot.com.br


Transcrevo aqui algumas informações do site  http://www.colegioweb.com.br/


No interior do país, nas vastas áreas do sertão, fatores históricos, sociais e econômicos, aliados às características de clima e vegetação, determinam fortes contrastes na paisagem nordestina e no nível de vida da população. Sertão é uma região geográfica caracterizada pela presença de clima semi-árido, vegetação de caatinga, irregularidade de chuvas, solos secos e rios intermitentes ou temporários. O sertão nordestino compreende as áreas mais secas e distantes do litoral leste do Brasil, situadas nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Apenas no Ceará e no Rio Grande do Norte o sertão chega até o litoral.

O sertão do Nordeste apresenta três formações típicas:

1- Amplas superfícies aplainadas, drenadas ao norte pelos rios Jaguaribe, Apodi e Açu, e a leste pelo São Francisco; 2- Maciços cristalinos, cujos esporões mais ocidentais são os da Borborema; 3- Chapadas sedimentares, como as de Ibiapaba, do Araripe e do Apodi. Apresenta clima semi-árido, com estação chuvosa no verão, mas há amplas áreas onde predomina o clima tropical chuvoso, com inverno seco. Em alguns trechos, a taxa pluviométrica anual é inferior a 500mm, sucedendo-se, às vezes, vários anos de estiagem. As prolongadas secas determinam a emigração da população pobre. As superfícies aplainadas são, em geral, cobertas por caatingas, formação vegetal onde predominam arbustos de folhas decíduas; são também abundantes as cactáceas e as bromeliáceas. Nos brejos onde há água durante todo o ano, localizados ora em trechos altos e expostos aos ventos úmidos de sudeste, como a serra Negra, em Pernambuco, ora ao sopé das baixadas sedimentares, como o vale do Cariri, no Ceará, dominavam densas formações florestais, hoje substituídas por culturas de mandioca, cana-de-açúcar e árvores frutíferas. Nas amplas várzeas de solos aluviais, situados nos baixos cursos dos rios que deságuam na costa, proliferam densos carnaubais. Nos espaços vazios existentes praticam-se lavouras de subsistência, enquanto nos tabuleiros cria-se gado bovino. A densidade demográfica no sertão nordestino é baixa e varia de 5 a 25 habitantes por quilômetro quadrado. Grandes propriedades aí se localizam, quase todas dedicadas à pecuária extensiva e à agricultura.Fonte: www.colegioweb.com.br

terça-feira, 13 de março de 2012

Localização do sertão nordestino

O nordeste brasileiro é uma região que impressiona pela grandiosidade e diversidade natural, social, cultural.

Vamos pensar um pouco - inicialmente - sobre o sertão nordestino. Espaço geográfico de intensa relação entre a sociedade e a natureza onde se materializam diversas expressões da questão social (ler sobre o ponto de vista do Serviço Social), da colonização por exploração, manutenção da exploração capitalista moderna e pós-moderna.

Dessa interação Homem  X  Meio, resultam cenários de degradação ambiental, manifestações culturais e contextos socioeconômicos de extrema estratificação social e consequêntes movimentos migratórios e de estratégias de sobrevivência.

Antes de aprofundar essas discussões é importante estabelecermos qual espaço estamos tratanto:

Geograficamente, o sertão nordestino é uma área de transição entre as sub-regiões do agreste (seco) e meio-norte (úmido). Compreende uma faixa que vai desde o litoral do Rio Grande do Norte (até perto de Natal) e Ceará até a região sudoeste da Bahia, passando pelos estados de Pernambuco, Paraíba (exceto o litoral), um pouco da região noroeste de Alagoas e Sergipe, e quase todo o estado do Piauí, com exceção da parte mais próxima à fronteira com o Maranhão.
O solo da região é antigo e em geral pouco profundo. A maior parte da região do sertão nordestino tem solo de embasamento cristalino com baixa capacidade de infiltração mas, em outros locais, nas bacias sedimentares, os solos são mais profundos permitindo uma maior infiltração e um melhor suprimento de água.
O clima na região é predominantemente semi-árido com uma estação seca mais prolongada onde a taxa de precipitação pode cair a níveis baixíssimos (500mm a 800mm por ano em algumas regiões, mas podendo chegar a 400mm em outras), o que impede o desenvolvimento da agricultura e pecuária. (Fonte: http://www.infoescola.com/geografia/sertao-nordestino/)

Representações cartográficas provocam generalizações e distorções da realidade, entretanto nos ajudam a compreender melhor nosso espaço.


Fonte: http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/nordeste_sertao_secas.aspx



Este espaço apresenta um potencial agrícola muito bom, principalmente se considerarmos que as chuvas são previsíveis e a ocorrência do sol é constante, o que possibilita planejamento e adoção de métodos de irrigação necessários para cada plantio.

O acesso à terra com solos mais bem desenvolvidos- sobremaneira- é limitado pelos latifundios herdados da época das capitanias e a massa populacional ainda não tem o devido suporte técnico para produção e manutenção de desenvolvimento social.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Centro de Aracaju-SE

Fundada em 17 de março de 1855, Aracaju foi a primeira capital planejada de um estado brasileiro; seu formato remete a um tabuleiro de xadrez. Todas as ruas foram projetadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para desembocarem no rio Sergipe. Até então, as cidades existentes antes do século XVII adaptavam-se às respectivas condições topográficas naturais, estabelecendo uma irregularidade no panorama urbano. O engenheiro Pirro contrapôs essa irregularidade e Aracaju foi, no Brasil, um dos primeiros exemplos de tal tendência geométrica. (Fonte: Wikipedia)

O centro comercial de Aracaju abriga dezenas de casarões antigos. Alguns foram transformados em museus e espaços culturais, além do mercado central. 


 Acima temos a Praça Tobias Barreto, local de manifestações populares e de representatividade política.


Desconsiderando a utilização noturna comum nos grandes centros urbanos, esta localidade apresenta materializados os três poderes. As fotos aqui apresentadas foram feitas de cima do prédio da Assembléia Legislativa de Sergipe; mais à esquerda, encontra-se o Tribunal de Justiça; no centro da praça encontramos o Palácio Olímpio Campos - sede  do Governo Executivo durante décadas - recentemente foi transformado em museu. Destacam-se também as presenças da sede do Ministério Público - localizado à direita; e da Catedral de Aracaju - localizada, não por acaso, próximas das instituições do poder.


Estas fotos datam de meados dos anos 2000. Nesta acima, temos a chamada "Rua da Frente". Localizada às margens do Rio Sergipe, torna-se um referencial para as quadras que compõem o Centro de Aju.
Temos a ponte do imperador - construída no período imperial para receber o sua majestade Pedro; a antiga balsa que diuturnamente levava e trazia carros e pessoas para a Barra dos Coqueiros e ao fundo a Ponte Aju/ Barra que estava quase concluída e que hoje liga Aju à Ilha de Santa Luzia e ao Litoral norte de SE.


157 anos !

domingo, 4 de março de 2012

Aracaju em 1894


A zona litorânea é - segundo a concepção de varios Geógrafos - uma área que apresenta intensa dinâmica geomorfológica em função dos fatores climáticos e geológicos que atuam neste espaço.

A Planta Hidrográphica da Barra e Porto de Aracajú datada de 1894 possibilita a analise ao observarmos a foz do Rio Poxim - complexo estuarino do Rio Sergipe. Destacam-se as Croas e entrâncias mapeadas há um século, tempo curtíssimo numa escala cronológica da Geologia e morfologia.

Quando analisamos as imagens abaixo dos últimos 50 anos, identificamos como o homem transformou a paisagem e promoveu impactos ambientais. A relação socioambiental neste espaço, não dissociada da lógica capitalista de produção, é objeto de estudo da Geografia e precisa de contínuo monitoramento e ruptura na lógica de uso e ocupação do solo urbano.


Aracaju, 1961. 


Aracaju, 1971.


Aracaju, 1978. 


Aracaju, 1986.


Aracaju, 2003.



Aerofotos, fonte: Petrobrás e Prefeitura de Aracaju.

Discussão mais aprofundade em:

SANTOS, A. S. P.Dinâmica da paisagem na foz do rio Poxim em Aracaju-SE (1961 - 2003). Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Sergipe - UFS. 2009.